quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Sobre Vampiros E A Inversão De Valores

Muitos, Inúmeros, já me perguntaram porque existe esse fascínio pelos vampiros.  Mas quando falo de vampiros, não estou me referindo aos vampiros da realidade, os vampiros energéticos que existem a nossa volta que nos sugam incessantemente, seja constantemente reclamando da vida, seja tomando conta da vida dos outros, fazendo fofocas, julgando, criticando...

 

Não, não estou falando desses vampiros.  Estou falando dos vampiros do cinema, dos personagens baseados na obra de Bram Stoker e seu famoso romance Drácula.  Por que esses personagens nos seduzem tanto?  Por que esses personagens, ao contrário do que se poderia pensar por serem monstros sugadores de sangue, nos fazem desejar ser como eles?  E por que não somos?

 


Não, não se trata de começar a criar o hábito de sugar sangue e ver se conseguimos viver por uns 1000 anos, porque isso definitivamente não é necessário.  Não é essa a minha proposta!  Mas vamos analisar o personagem e suas características mais marcantes: são absurdamente sedutores, belos, sensuais e sexuais.  São totalmente destemidos, nunca se fazem de vítima, confiam em seu poder, não só no enorme poder de sedução, como também no seu poder de enfrentar ameaças, seja pela sua força física, seja pelo seu poder sobrenatural, ou pela sua extrema auto-confiança.  Tem como não invejar alguém que tenha essas características?  E ainda ser capaz de viver por 1000 anos com esse poder todo?!  Quem não quer isso?

 

Mas por que parece que existe uma inversão de valores nessa questão?  Por que alguém que parece ser o arquétipo da vida em sua plenitude é representada como vilão, como ameaça, como algo reprovável?  E por que os mocinhos dessas histórias, que são os religiosos, as pessoas respeitosas da sociedade comum, os destemidos combatentes desse dito mal, os caçadores de vampiros, na verdade parecem estar mortos, ou em outras palavras, serem avessos a essa enorme expressão de vida?

 

Eu sempre digo o seguinte: no estudo da psicanálise e seus arquétipos, conforme observado por Carl Jung, o arquétipo do super-herói nos ajuda a trabalhar nossa auto-estima, nossa coragem e altruísmo.  Mas eu sempre trabalhei com dois arquétipos que podem ser opostos, mas servem a propósitos distintos.  Na contra-mão do arquétipo do super-herói, hoje eu gosto mais de pensar no arquétipo do vampiro por várias razões. 

 

Primeiro porque é necessário mostrar os dentes de vez em quando, da mesma forma que os cães costumam também fazer para estabelecer limites.  Numa sociedade repleta de pessoas prontas a se aproveitar das pessoas e das circunstâncias, saber “mostrar os dentes” significa que você não se faz de vítima para ninguém, e que você será capaz de tudo para estabelecer seus limites e garantir sua proteção.  Isso também significa uma expressão de Amor próprio.  Mas o vampiro também tem a característica típica dos lobos, de saber o momento certo do abate da presa, além de um enorme poder de observação.

 

Mas o arquétipo do vampiro também pode ser visto pelo seu enorme poder de sedução, sua sensualidade latente e sua sexualidade declarada.  O vampiro vai se apresentar como vida em sua intensidade máxima, sem contar o seu carisma e poder de hipnotizar suas presas, deixá-las fascinadas pela sua simples presença, seu olhar penetrante, seu mistério e sua imponência.  O vampiro tem o erotismo estampado em cada gesto, em cada movimento, em cada olhar.

 

Além disso tudo, o vampiro também simboliza o ser que se coloca acima do sistema, alguém que vive à margem da sociedade até por motivos óbvios.  Ele é uma força da natureza incontrolável, algo acima da limitada compreensão humana.

 

Parece algo bem comum em tempos de ascensão, não é mesmo?  Numa época em que o sistema tem mostrado a sua cara na tentativa de retomar o controle sobre os seres humanos, de manter o poder de controle sobre todos, de reprimir expressões livres através de uma censura cada vez mais insana e constante, numa demonstração muito clara de desrespeito aos direitos humanos básicos, da supressão da livre expressão, da opressão e intimidação constante, te leva a pensar que os mocinhos hoje estão mais para vilões, e os vampiros hoje parecem ser o jeito mais apropriado de ser.

 

Nessa inversão de valores, hoje é fácil de perceber que de repente os verdadeiros “Mortos-vivos” são representados na verdade por todo o conjunto da sociedade, das igrejas, da justiça, de todos aqueles que se dizem “defensores da moral e dos bons costumes”!  Apenas algo a se pensar...

 

Agora, de que forma podemos viver por 1000 anos?  Bom, isso eu vou deixar para vocês descobrirem!

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