Vamos nos aprofundar mais um pouco na questão do perfil psicológico de quem assiste ou produz um filme de terror, já que é muito comum alguém começar a ficar preocupado de que possa estar lidando com uma pessoa no mínimo perturbada. Principalmente quando o assunto em questão envolve nossos filhos!
É muito comum os pais começarem a se sentirem incomodados com o fato de que seu filho pequeno gosta de ver esse tipo de conteúdo. Afinal de contas, é isso que os filmes como um todo nos permitem fazer: nos colocarmos no lugar de quem queremos ser. E no caso dos filmes de terror, isso pode significar ser a vítima, o herói, ou mesmo o próprio monstro!
Muitos personagens de filmes de terror já viraram verdadeiros ícones admirados pelo coletivo humano. Que o digam o conde Drácula, inspirado no homônimo romance escrito por Bram Stoker, famoso escritor irlandês; Jason (Sexta-feira 13), o assassino serial sobrenatural mais idolatrado de todos; Michael Myers (Halloween), talvez o que originou esse tipo de personagem; Freddy Krugger (A Hora do Pesadelo), famoso por cometer seus assassinatos através do pesadelo de cada uma das suas vítimas, na maioria adolescentes; além de criaturas famosas e míticas como o lobisomem; a aberração da ciência chamado Frankenstein; a Múmia, sempre com referências às lendas do antigo Egito, entre muitos outros monstros que já ganharam as telas dos cinemas no mundo todo.
Particularmente considerando os filmes de "Sexta-feira 13", houve uma polêmica enorme exatamente pelo fato de que Jason, um assassino em série cruel e desumano, estava sendo adorado exatamente como uma figura de ação, um anti-herói, e muitos ficaram temendo que começasse a haver uma onda de assassinos em série inspirados em personagens como esse.
Quem já não se imaginou interpretando um monstro desses, talvez se imaginando matando aquela professora de matemática "irritante", ou talvez aquele coleguinha famoso da escola que vive tirando sarro da sua cara, ou mesmo um pai ou uma mãe, ou padrasto ou madrasta, ou talvez apenas achasse interessante a idéia de "meter medo" nos outros. O fato é que os filmes de terror nos permitem "viver" esses personagens, muitas das vezes poderosos, incontroláveis, cruéis, tudo aquilo que muitas das vezes desejamos ser em dado momento, mas não conseguimos.
Lembram dos "nãos" impostos pela sociedade? Esses monstros são muitas das vezes uma conseqüência de tudo isso, uma resposta de alguém que resolveu colocar para fora seus traumas, como uma panela de pressão que eventualmente coloca para fora a pressão que vai se acumulando conforme o calor aumenta e a água que se encontra fervendo por dentro começa a buscar uma saída, provocando a saída do vapor pela válvula de alívio. Psicologicamente falando, se somos aquele tipo de pessoa que não consegue responder a repressão instituída, vamos armazenando emocionalmente todos esses traumas até o momento em que não agüentamos mais tanta incompreensão, tanta injustiça, tanta crueldade, tanto desamor.
Os filmes de terror nos possibilitam "colocar para fora" essas neuras acumuladas, sem no entanto efetivamente matar ninguém, apenas fazendo uso de nosso próprio poder empático e se colocando no lugar dos monstros, colocando para fora as emoções acumuladas.
Talvez você prefira apenas se colocar no lugar da vítima, e viver fugindo disso tudo, esperando que alguém venha lhe salvar daquela ameaça. Talvez você prefira ser o grande herói, o salvador da pátria, o destemido caçador de vampiros que sabe tudo sobre como deter essas criaturas sobrenaturais poderosas, ou talvez tenha descoberto o melhor jeito de combater o Freddy Krugger na sua área de atuação, ou seja, no mundo dos sonhos. Talvez você tenha encontrado um jeito de matar o Frankenstein, ou encontrou a bala de prata que vai matar o lobisomem.
Eu talvez não precise dizer que existe uma inversão de valores escondida nesses filmes. Afinal de contas, porque esses personagens são tão "super-poderosos"? Por que é que, de repente, ser super-poderoso é ser "do mau"? Por que é que alguém que encontrou o segredo da imortalidade, se tornou "imune a balas", consegue voar ou se transformar em outros animais, ou tem um poder de sedução incrível, é alguém ruim? Por que é que esses personagens "tão incríveis" em sua força e seu poder, são uma ameaça terrível e devem ser exterminados?
Eu hoje vejo esses monstros como uma resposta natural ao sistema instituído, um sistema ausente de Amor Incondicional, de respeito, de afeto, de carinho, de igualdade de direitos, de emoção, de vida até. E hoje vejo que sempre olhamos para o lado errado, de ver onde estão os "verdadeiros monstros".
Mas não se preocupem! Quem aprecia esses filmes não são monstros em sua essência, muito pelo contrário. São pessoas absolutamente pacíficas, amorosas, de muito respeito. Elas apenas estão buscando uma forma de descarregar suas emoções profundamente armazenadas em seu inconsciente, e dessa forma trabalham suas sombras de uma forma absolutamente saudável, sem verdadeiramente prejudicarem ninguém, ou mesmo causar qualquer dano, pois essas pessoas sabem muito bem que só o Amor Incondicional constrói, e tudo o mais constitui a mais pura ilusão instituída.
Mas de vez em quando pode ser interessante "meter medo". Isso faz parte de saber impor limites, principalmente quando entendemos que devemos amar a si mesmos primeiramente, antes de sermos capazes de amar a quem quer que seja. Esses monstros podem nos ensinar que é importante sabermos "Mostrar os dentes" quando isso for necessário, assim como os cachorros também fazem, exatamente para nossa própria segurança. Mas para isso precisamos desenvolver auto-estima, um profundo sentimento de confiança por si mesmos antes de sermos capazes de explorar nossas sombras, pois isso vai garantir que não nos tornemos "Monstros" de fato.
Nossa liberdade só termina quando ela começa a ameaçar a liberdade do outro. E sempre devemos manter em mente que devemos "Fazer ao próximo o que desejamos que seja feito consigo mesmo".
Todos nós somos anjos e demônios em si mesmos. O que vai determinar qual deve ser usado em dado momento é nossa intuição e nossos instintos. Estar centrado no coração não significa se tornar subserviente a tudo e a todos, mas sim saber estabelecer limites sólidos para sua própria proteção e bem estar, seja esse bem estar mental ou físico.
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