Engraçado como cada pequeno aspecto da minha vida, por mais insignificante que seja, se revela de uma importância enorme nos dias de hoje. Mesmo algo tão aparentemente insignificante, e até mesmo desprezível para alguns, se revela algo de uma enorme importância nos dias de hoje.
Eu pensei em chamar esse texto de "A Verdade do Streaming", como eu também poderia ter chamado esse texto de "A Destruição De Toda Uma Cultura Musical E Cinematográfica", porque é disso que se trata toda essa cultura do "Streaming" (Transmissão de música e vídeos através da Internet). De repente, lamentavelmente, vivemos em uma época em que tudo que foi feito em um passado não muito distante, ou não tem importância ou está sendo submetido a um processo de esquecimento e aniquilação.
É disso que se trata também toda essa cultura instituída do "reboot", ou "reimaginação", ou "reinvenção". Recria-se algo que já existe porque... Por que não ficou perfeito? Por que está diferente do que nos quadrinhos? Por que conta uma história diferente? Só o que acontece é que se tende a perder o respeito por aquilo que já foi criado. Convencionou-se de pensar que o que foi criado antes deve ser esquecido porque... Não ficou perfeito? Como assim?!
Então vamos nos esquecer do Superman de Christopher Reeve, a grande criação do grande e lendário diretor Richard Donner, porque... Não haviam efeitos especiais digitais gerados por computador? Sério?! Devemos considerar o mesmo para os filmes de Star Wars, ou o clássico "ET - O Extraterrestre" de Steven Spielberg? Ou as histórias já clássicas de Indiana Jones? Ou mesmo a trilogia inesquecível de "De Volta Para O Futuro"?
O que está acontecendo com o cinema? Por que parece que devemos jogar fora toda uma geração de grandes criações cinematográficas?
E o que dizer de toda a produção musical e do fenômeno do "Streaming" de música pela internet? Será que podemos mesmo confiar que conseguiremos encontrar tudo que foi criado musicalmente ao longo de todos esses anos de indústria fonográfica, disponível na internet, quando que cinematograficamente falando já não conseguimos ter acesso a determinados filmes, que hoje são considerados "Filmes esquecíveis" em serviços como o Netflix, o Prime Video, ou mesmo o HBO Max ou Disney Plus?! Vamos mesmo confiar nesses serviços para manter toda uma cultura musical e cinematográfica viva?
Mas, como eu disse antes, eu me decidi por uma abordagem mais positiva do assunto, por uma abordagem mais "Amorosa", e é aí que talvez eu já esteja respondendo grande parte da problemática envolvida.
Amor. Amor é o grande problema.
Por incrível que pareça, o Amor é o grande problema em toda essa questão. Senão, vejamos... Os filmes da década de 70, 80 e até mesmo muitos dos anos 90 tinham uma coisa em comum: Finais Felizes! Todos eles traziam uma temática amorosa, uma temática de união, da importância dos relacionamentos, não só de relacionamentos amorosos, mas de relacionamentos familiares, de relacionamentos pessoais, de pessoas que se tornavam uma família. Os filmes daquela época no geral, embora começassem a trazer novas tecnologias aplicadas a efeitos especiais fotográficos, ainda assim em sua maioria traziam histórias de "gente como a gente", do dia a dia das pessoas. Mesmo que estejamos falando sobre filmes de ficção científica, ou de aventuras, ou mesmo de filmes de terror, ainda assim havia um componente muito forte de relacionamento, um componente predominantemente humanista.
Filmes como "O Primeiro Ano Do Resto De Nossas Vidas", ou "O Clube Dos 5", "Um Lugar Chamado Notting Hill", "Suzie E Os Baker Boys", "Linha Mortal", "Tomates Verdes Fritos". Muitos naquela época poderiam até não ter preferência por esse tipo de filme mais dramático, mais voltado para relacionamentos, mas estamos falando de um cinema voltado para contar histórias para pensar, para tornar as nossas vidas não só algo mais leve, mas para também nos mostrar que o que vivíamos era muito importante.
Acreditávamos na existência de vida após a morte, acreditávamos que havia muita vida ao longo de todo esse universo, e que esses alienígenas eram amorosos e talvez até fossem "Gente como a gente"! Que o diga filmes como "Cocoon".
Sonhávamos, muito embora os efeitos especiais ainda pudessem ser algo mais artesanal e baseados em maquiagem ou truques ópticos... Ainda assim havia arte na criação daquelas imagens!
E agora? Onde estão esses filmes?
É nessa que entra a enorme importância do colecionador! Eu sempre fui um colecionador, e hoje eu posso dizer que tenho orgulho da coleção que montei para mim. Comecei colecionando discos de vinil em uma época em que a música tinha mais valor, em uma época que era tudo que tínhamos para ser colecionado. Os amantes da música dessa época contavam com heróis talvez mais críveis, não exatamente mais comuns. Todos queriam aprender a tocar guitarra como Jimmy Hendrix, ou Eric Clapton, talvez até serem os novos Beatles, ou cantar como Elvis Presley, ou ser um Frank Sinatra com seus olhos azuis, uma Janis Joplin ou uma Whitney Houston. Nossos heróis eram músicos de uma criatividade sobrenatural, com habilidades vocais e instrumentais invejáveis, e muitos nos inspiramos neles para seguir uma carreira musical. Muitos músicos incríveis se revelaram inspirados nesses grandes heróis do mundo da Música.
Mas então veio o videocassete, e com isso veio a possibilidade de se colecionar não só música, mas filmes, shows ao vivo, séries, documentários. O universo de possibilidades só se ampliava. Com o advento do DVD, finalmente podíamos ter aquela coleção de filmes invejável, disponível para ser vista e revista a qualquer hora do dia e da noite. Muitos não queriam ficar "revisitando" esses filmes, bastava apenas assistir uma única vez. Mas tudo bem, para isso sempre haviam os serviços de aluguel de filmes.
Mas estamos adentrando uma outra classe de pessoas que, muito mais do que serem simples colecionadores, eles são verdadeiros "Amantes", e não estou falando na questão de serem amantes sexuais (Talvez até sejam... mas isso não vem ao caso!), mas amantes da vida, da criatividade, da arte, pois o colecionador não vê sua coleção como algo que simplesmente aconteceu por escolher "juntar" coisas diferentes, mas ele vê aquilo como o registro de vida de várias gerações, uma cultura a ser estudada, observada e compreendida.
Assim como a música é um conjunto de notas musicais e acordes organizados em um compasso, que pode ser fixo ou variável, com o intuito de provocar uma resposta emocional em uma pessoa, também os filmes acrescentam a isso um fator visual com o intuito de provocar uma resposta emocional, dependendo de que tipo de emoções estamos buscando sentir, sejam emoções de medo, de raiva, de alegria, de paixão, de carinho, afeto, até mesmo tristeza, compaixão, ou mesmo emoções fortes, cheias de adrenalina.
Pois cinema é isso! Você escolhe as emoções que quer sentir, assim como pode escolher as imagens que quer assistir. E também havia a música criada para esses filmes, que também constituíam algo à parte. Como escolher viver a emoção daquela música, sem necessariamente estar buscando as imagens associadas.
Infelizmente a "Arte da Coleção" já é algo que não se vê nas atuais gerações. Muitos da geração atual nunca saberão o que significa "Possuir uma música", ou "Possuir um filme", e toda a emoção envolvida com tudo isso. Os grandes "Guardiões Colecionadores" estão morrendo, assim como possivelmente também os grandes amantes, pois eu sei bem o Amor enorme que tive, e ainda tenho, com cada uma das aquisições feitas ao longo de anos da existência da indústria musical e da indústria cinematográfica, e de toda a criatividade envolvida com tudo isso.
Na Era da Reciclagem, isso parece ser tudo que podemos ter: produtos reciclados, e que serão facilmente esquecidos, pois não ficarão para sempre disponíveis nas páginas do Netflix, ou do Prime Video, ou de qualquer serviço de streaming que venha a surgir para abocanhar mais dinheiro de assinaturas.
Muitos poderiam dizer que não vale a pena possuir músicas ou filmes, pois eles realmente vêem isso tudo como algo descartável e sem importância. Mas é exatamente dessa forma que a cultura de uma geração inteira fica esquecida, e eu não sei dizer se isso é de fato um sinal de evolução. Para que haja evolução, é necessário que hajam referências para os erros cometidos anteriormente, pois é assim que evoluímos: aprendendo com os erros do passado. Mas se não existe memória, como alguém pode construir evolução?
A coleção assegura a existência da nossa história, da nossa cultura.
Mas não pensem que isso está acontecendo apenas com filmes e músicas! Muitos já não fazem idéia do enorme prazer de se folhear uma edição novinha em folha de um livro que já vínhamos desejando adquirir a muito tempo. O famoso "Cheiro de livro novo"!
Sou um apaixonado, não posso negar. E sempre serei um amante colecionador! Sempre haverá algo a ser colecionado.
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