quarta-feira, 5 de novembro de 2025

A Constante Fuga De Si Mesmo

 

Distrações.  Vivemos cercados delas, e a cada dia que passa mais e mais distrações são criadas.  E isso tudo visa manter as pessoas desconectadas de si mesmas.

 


Existem aqueles que assistem telejornais em diferentes canais de televisão, ou em diferentes sites de notícia.  Acreditam que precisam saber de tudo que acontece no mundo, seja em um âmbito local, como também em um âmbito nacional e mundial, do contrário consideram que não teriam assunto para conversar com outras pessoas que encontram no seu dia a dia.  Precisam se manter informados de tudo, precisam reforçar suas crenças, suas convicções políticas, econômicas, sociais, precisam saber dos perigos que os cercam, de onde estão acontecendo mais assaltos, mais assassinatos, de onde o governo está mais uma vez deixando de atender o público, de consertar o que precisa ser consertado.  Precisam ter do que reclamar, do que comentar.

 

Existem aqueles que vivem obcecados com jogos de futebol, com todos os campeonatos, os pontos marcados por seu time do coração, do jogador que foi expulso no último jogo, do que os técnicos de futebol andam aprontando, da falha dos juízes e bandeirinhas.  Entendem tudo sobre as jogadas dos meios de campo, dos atacantes, dos goleiros, dos passes mal dados, dos dribles que não deram certo, do quanto determinado jogador jogou errado.  Os homens costumam ser os maiores especialistas nesse assunto, mas muitas mulheres também se arriscam nesses assuntos.  O mundo do esporte talvez seja uma das maiores distrações, só superada pelos assuntos sobre violência no dia a dia.  Talvez sobre o quanto os maridos andam matando as mulheres por ataques psicóticos de ciúme extremo, ou por não admitirem serem abandonados.

 

Existem aqueles que são especialistas dos últimos conteúdos sendo oferecidos pelos principais serviços de "Streaming" na internet.  Foi-se o tempo em que filmes e séries eram coisas diferentes, agora tudo é pura e simplesmente "Conteúdo".  Vivem avaliando quais serviços oferecem os melhores conteúdos, onde encontrar cada conteúdo específico.  Alguns são especialistas e críticos das últimas novidades sobre "Star Wars", outros são especialistas das últimas novidades sobre a Marvel, ou sobre a DC, ou dos desenhos e filmes da Disney.  Sem contar a quantidade absurda de críticos de cinema que criaram seus próprios canais no Youtube para discutirem sobre as últimas novidades sendo lançadas no cinema, ou dos ditos "Conteúdos".

 

Sem contar nos especialistas de assuntos específicos, como computadores, carros, a história dos antigos conjuntos de som e "Home-Theaters", especialistas em celulares, "Smart TVs", e qualquer outro tipo de dispositivo dos quais vivemos anos sem precisar deles, mas hoje constituem itens obrigatórios.

 

Nem vou entrar na quantidade de especialistas em culinária que impregnam o ecossistema do Youtube, cada um com suas receitas particulares, seus métodos próprios de preparar guloseimas, drinks, comidas diferentes, doces, bolos, pães. 

 

Qualquer coisa pode ser aprendida através do Youtube.

 

E isso tudo ajuda a grande massa populacional a se manterem alheias de si mesmos.  Todos seguem agindo no automático, sem nunca se questionarem se aquilo que eles mais amam de fato os ajudam a serem pessoas melhores.

 

A violência nunca esteve tão em alta no mundo atual.  Todos vivem em modo de sobrevivência.  Vende-se de tudo, mas precisamos cada vez mais de muito menos.  Todos vivem endividados, ninguém gasta o que ganha.  A necessidade de ostentação nunca esteve tão em alta, em tempos de canais de "Redes Sociais".  E por falar em distrações, as ditas redes sociais estão em primeiro lugar absoluto!

 

Ninguém se conhece de verdade.  Ninguém é capaz de encarar seus próprios fantasmas, seus próprios demônios, de assumirem a responsabilidade por aquilo que criam para si próprios, e continuam criando porque vivem de forma automática, sempre em constante fuga de si mesmos.

 

Até quando iremos continuar "seguindo as massas"?  Até quando iremos continuar fugindo de nós mesmos, de nos curarmos e aprendermos a criar de forma mais consciente?  Até quando iremos ignorar o fato de que somos responsáveis por criarmos o mundo em que vivemos?

 

Até quando vamos escolher as distrações, ao invés de escolhermos nos auto-conhecer?

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